Interestelar (2014): uma ficção científica mais realista



Gosto de ir ao cinema sem nunca ter assistido nem ao menos o trailer do filme.  Mas nos dias de hoje isso está cada vez mais difícil, pois muitas vezes os trailers explodem na sua cara nos lugares mais inesperados. Mas no caso de Interestelar cheguei ao cinema sem saber nada sobre a história, e isso me fez tirar ainda mais proveito dela. 

É redundante dizer que os efeitos visuais são sensacionais. Paisagens hipnóticas e as cenas de ação muito bem dirigidas já seriam o suficiente para carregar o filme (não são montanhas, são ONDAS! WTF!!!)

Mas o diretor e roteirista Christopher Nolan foi muito feliz na construção de uma história de ficção científica que foge à maioria dos clichês do gênero. O filme me transmitiu uma sensação de aventura realista mesmo sendo um universo tão distante de mim. Talvez pelo herói realista e humano que Matthew McConaughey encarnou brilhantemente bem, com destaque para a cena em que ele vê o vídeo dos filhos depois de passados 23 anos. Impossível não se emocionar.

Outro elemento muito interessante foi o design dos robôs. Eles não são humanóides como os demais filmes do gênero fazem os robôs, e sim totens com movimentos retos e relativamente lentos. Mas quando exigido rapidez como na cena de resgate no mar, o robô TARS se moveu de maneira criativa e impressionante. Também foi sagaz do roteiro fazer dos robôs os seres mais dedicados em salvar a raça humana do que os próprios humanos, que no final das contas acabavam lutando por seus interesses individuais.

Os efeitos sonoros e a trilha original foram brilhantemente executados por Hans Zimmer. Uma pena que as vezes o volume fica tão alto que chega a ficar difícil entender as falar dos personagens. Mas descobri em uma entrevista de Nolan que ele usa esta estratégia pois acredita que o públicofica mais atento às falas se precisar se concentrar para ouvi-las.

A história foi incrivelmente bem contada e os elementos mais complexos explicados de maneira não-óbvia e não tão didática. E havia diversos elementos criativos no roteiro, coisa que os filmes de ficção científica vêm pecando em oferecer nos últimos anos.

A primeira parte foi um pouco lenta, mas antes da metade até o final o filme se torna muito interessante. Há alguns furos no roteiro, como a facilidade com que o herói consegue entrar na NASA e o desfecho da história com o Deus ex machina gritante da "mensagem" e o "fantasma" sendo compreendidos pela heroína. 

Sobre a trama, já havia lido e debatido em mesa de bar algumas questões a respeito do tempo, gravidade e a teoria da quarta dimensão. Ver esse assunto usado de maneira brilhante nesse roteiro me fez querer pesquisar um pouco mais sobre as informações usadas. Diversos cientistas acreditam que o tempo seja a quarta dimensão, na qual todas as "faces" acontecem simultaneamente.  Nós somos seres tridimensionais, capazes de experienciar apenas uma "face" de tempo de um único momento tridimensional de cada vez. A passagem de tempo é como nós como seres tridimensionais nos movemos num ritmo constante através da dimensão.

O que vou falar pode ser um grande spoiler, mas foi o que me fez entender melhor a trama: não há um momento "presente" unificado. O tempo passa de maneira diferente em diferentes situações. E os cientistas conseguiram testar isso. A ideia de que podemos envelhecer mais rápido ou mais lentamente dependendo da nossa proximidade de um buraco negro ou da gravidade em geral não é fantasia. Um ser quadridimensional (ou com mais dimensões) pode, teoricamente, ser capaz de perceber passado, presente e futuro simultaneamente. 

Isso tornou o filme muito mais interessante para mim, saber que não só que as informações sobre gravidade, fenda espacial, buraco negro e aeronáutica foram usadas com fidelidade científica, mas também toda a teoria do tempo e espaço.

A teoria do espaço tempo é algo muito difícil para nossa sociedade compreender, já que é tão aceito que nosso tempo passa linearmente e nós o experienciamos conforme ele passa. Imagino que milhares de pessoas que assistiram o filme não fazem ideia dessa teoria e que nossa sensação de tempo é baseada no nosso movimento. Foi brilhante e corajoso da parte de Nolan ousar explorar isso no filme.

Na minha opinião, um dos melhores filmes de ficcção científica das últimas décadas. 

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